Para quem pensa que o
ácido hialurônico é apenas um bom ativo hidratante, presente nas fórmulas dos cosméticos, vai aqui uma boa notícia. Essa substância é amplamente utilizada nos consultórios médicos para tratamento de rugas, vincos e perda de volume facial. Em outras palavras: o ácido hialurônico (AH) é o ativo da vez na dermatologia, contra os sinais de envelhecimento. Na verdade, trata-se de uma substância produzida pelo organismo humano, que tem uma enorme capacidade de reter a água nas células cutâneas, garantindo hidratação e por consequência o viço e beleza da pele.
Porém, com o tempo a produção de AH diminui, comprometendo a hidratação dos tecidos e a sustentação da cútis. "O ácido hialurônico sintético é idêntico ao produzido pelo nosso corpo. Na pele essa substância traz sustentação para as células e atrai água, garantindo a hidratação. Além disso, estimula a proliferação de células e de colágeno, o que, na prática, favorece o rejuvenescimento. Tanto é que as peles jovens têm mais ácido hialurônico do que as mais velhas", explica a dermatologista Roberta Vasconcelos, pesquisadora do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo.
O tratamento
O AH é usado injetável com o objetivo de promover um preenchimento embaixo das rugas e vincos e nas áreas com perda de volume, sintomas que desaparecem imediatamente após o procedimento já que a substância vai ocupar o volume de colágeno e gordura perdidos.
A aplicação é feita no consultório (com uma anestesia local ou anestésico tópico aplicados previamente) por meio de agulhas bem finas ou cânulas, que levam a substância até a área a ser preenchida. "O resultado aparece na hora, mas logo após a aplicação pode ocorrer um inchaço no local que desaparece entre 24 e 48 horas depois", explica a dermatologista Patrícia Rittes, de São Paulo. O resultado pode durar de seis meses a dois anos, vai depender do tipo de ruga que foi tratada, da qualidade do ácido hialurônico utilizado e do organismo de cada um. Em tempo: o AH é uma substância naturalmente absorvida pelo corpo, não sendo necessária sua retirada.
O médico especializado em medicina estética, Paulo Kogake, de São Paulo, afirma que esse tipo de preenchimento é muito seguro. "O plano de aplicação deve ser definido no exame local pelo médico, bem como o tipo de preenchimento e a região a ser tratada, pois existem diferentes composições e formulações disponíveis no mercado, o que influencia no resultado desejado. Por exemplo, em sulcos mais profundos usamos material mais denso; já nos lábios, material menos denso, para garantir naturalidade", conclui o especialista.
Regiões que podem ser tratadas com sucesso
O preenchimento com ácido hialurônico é tão generoso que pode tratar praticamente todos os tipos de sinais e vincos. "Como o contorno da mandíbula (do queixo até a orelha), que compromete o desenho do rosto denunciando o envelhecimento, vinco nasogeniano (da narina ao canto da boca), bochechas, pés-de-galinha e queixo. Até o nariz pode ser tratado: nos casos de ponta caída é possível levantar", explica Patrícia Rittes.
A única ressalva é em relação às rugas entre as sobrancelhas, embora a maioria dos médicos não seja contra. Elas também podem ser tratadas, mas com muito critério. "Não se recomenda fazer preenchimento nas rugas entre os olhos, pois há risco de cegueira, apesar de ser pequeno. Para esse caso, é indicado sobretudo a toxina botulínica que ameniza a "expressão de bravo"", justifica o dermatologista Jardis Volpe, de São Paulo, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia.
Lábios
Com a idade os lábios tendem a perder o volume, e assim ficam murchos e mais finos. Para driblar o problema, o preenchimento com ácido hialurônico é muito indicado. "Mas como em qualquer outra região do rosto, é preciso evitar os exageros para não ficar com o chamado "bico de pato", que são os lábios projetados para frente", ressalta Jardis Volpe.
Os riscos
Apesar de parecer simples, o preenchimento com AH requer muito bom senso por parte dos médicos, pois os riscos existem. "Eles variam desde pequenos nódulos palpáveis ou aparentes, por acúmulo de produto em algum ponto, até a perda da naturalidade, quando se injeta em demasia", alerta Volpe. Para Patrícia Rittes, os danos provenientes do exagero e da aplicação em local incorreto, além de comprometerem o efeito natural, podem levar os pacientes a uma fisionomia caricata, com bochechas proeminentes que parecem de bonecos. O único jeito de fugir dessa armadilha é escolher com muito rigor o médico. "Seguir a indicação de alguém que tenha feito, com bons resultados, e pesquisar o currículo do médico pode evitar surpresas desagradáveis. Recomendo consultar sempre um médico dermatologista, que seja membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia", ressalta Roberta Vasconcelos.
Cosméticos com ácido hialurônico
Apesar do ácido hialurônico ser um dos mais potentes hidratantes, suas moléculas são grandes, o que torna difícil a penetração desse ativo na pele. "Ainda não há comprovação científica que o ácido hialurônico, na sua forma original, seja capaz de penetrar na pele quando aplicado em creme", destaca Roberta Vasconcelos, do HC-USP.
Para o farmacêutico Emiro Khury, de São Paulo, consultor de desenvolvimento da indústria cosmética, o tamanho da molécula é um problema resolvido. "Pesquisadores que trabalham com ácido hialurônico descobriram um artifício para ampliar a sua ação na pele. Por ser um polímero (molécula formada por muitas unidades iguais coladas umas nas outras), eles descobriram que algumas enzimas quebram o ácido em unidades de tamanho médio ou pequeno, preservando sua característica original. Então, nós formuladores podemos escolher o tipo de ácido hialurônico de acordo com o benefício do cosmético. Se o objetivo for uma hidratação profunda usamos ácidos com peso molecular pequeno, se queremos efeitos sensoriais ou hidratação imediata com proteção para pele usamos pesos moleculares maiores. Existe ainda a possibilidade de misturar os tipos somando seus efeitos. Tudo em nível tópico", justifica o especialista.